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A formação do preço do leite
05/11/2020 - 22:25


Prof. Thiago Bernardino de Carvalho

 

 

O preço de um determinado produto é formado pelo equilíbrio de oferta e demanda do mercado. No caso do mercado lácteo a formação dos preços segue a mesma lógica, volume produzido dentro da porteira e nos laticínios versus a demanda do varejo e do consumidor.
 
Evidentemente, no caso específico do mercado lácteo, temos alguns diferenciais em termos de produto final, como os extremos, leite fluído e os derivados. O primeiro com um nível de processamento menor, tendo um valor de mercado mais baixo que o segundo, que possui diferentes formas de industrialização.
 
Analisando a formação tradicional no mercado de lácteos, os preços do leite e seus derivados, respondem principalmente por uma sazonalidade de produção, ou seja, a oferta em muitos anos é o fator determinante no estabelecimento dos preços. A curva de preços responde há uma maior oferta de leite na safra, ente outubro e abril, com níveis mais baixos nas cotações, e posterior ascendência entre os meses de maio e setembro, devido à entressafra, ou seja, menor oferta de leite devido a uma menor oferta de alimento para as vacas, impactando numa menor captação e consequentemente valorização do produto final.
 
Lógico, que fatores externos à produção dentro da fazenda podem interferir nesse ritmo e tendência, como uma seca mais prolongada, câmbio valorizado, mudanças nos hábitos alimentares, assim como um aumento ou uma crise na demanda.
 
Esse último fator pode ser exemplificado nos tempos atuais de quarentena devido a pandemia do coronavírus. A forma de consumo do leite mudou, tendo o consumidor, seja ele o varejo ou o consumidor final (pessoas) buscando fazer estoque de alimentos, e nesse sentido, olhando para produtos menos perecíveis. 
 
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV), cerca de 34% do preço do leite é formado pelo queijo, ou seja, 33,6 do destino da produção de leite é para se fazer queijo. O leite UHT representa 27%, o leite em pó 26,3%, o pasteurizado 4,3% e demais produtos 8,8%. 
 
Nesse sentido há uma busca muito grande do varejo e das pessoas, na compra do leite UHT, produto de menor valor agregado para a população e também para o processamento dos laticínios. Por outro lado, o atacado e varejo, se preocupam com a demanda final, devido a renda da população e buscam trabalhar com estoques reduzidos de produtos.
 
Como falado, a busca por alimentos estocáveis, no caso do UHT, somado a uma queda no emprego e na renda, fazem que no curto prazo, laticínios foquem sua produção e a formação de estoques no leite fluído, diminuindo a demanda por qualidade e pagando menos pelo produto, pois recebe menos pela não venda dos derivados. Como não há um mercado externo para escoar a produção devido à baixa competitividade do leite brasileiro, o formador de preços é o consumidor doméstico.
 
Esse movimento em momentos de retração da demanda e escolha de produtos mais baratos, invariavelmente chega ao produtor de leite em termos de redução dos preços, mesmo no período em que a produção fica menor devido à entressafra.
 
Ao setor produtivo, dentro da fazenda, resta ajustar a atividade em termos de produtividade, sabendo que há um período de transição pela frente, mas que há sempre a necessidade de continuar a produção, sem loucuras é claro, mas continuando a girar e produzir com tecnologia, para que no médio e longo-prazos colha o fruto desse investimento.

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